Suicídio: uma chaga silenciosa

O suicídio é um roubo ao gênero humano”.  Jean Jacques Rousseau

Dr Fernando Fernandes

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O suicídio constitui uma grande preocupação na área de saúde. A Organização Mundial de Saúde|OMS estima que até 2020 mais de 1,5 milhões de pessoas irão cometer suicídio. No Brasil, quase 9000 pessoas cometem suicídio anualmente. Isso faz com que o Brasil ocupe a 67ª posição na classificação mundial proporção de suicídios e a 10ª posição em números absolutos. Isso mostra a dimensão do problema no nosso meio.

É um problema pouco abordado, mas potencialmente prevenível. Para que haja prevenção é preciso que a sociedade conheça as raízes do problema e as ferramentas para enfrentá-lo. Pensamos nesse assunto apenas quando alguma celebridade comete suicídio, com posterior foco da mídia ou quando infortunadamente somos tocados pelo drama de alguma família amiga. Esquecemos (ou ocultamos) o assunto logo em seguida. Convido aos leitores a estarem atentos: pessoas em sofrimento e risco estão à nossa volta, ao nosso alcance.

Causas do suicídio: O suicídio surge de uma junção de fatores biológicos, psicológicos, sociais e culturais. Não há uma causa única, contudo um dado é contundente: realizando estudo retrospectivo, em mais de 90% dos suicidas é identificada uma doença psiquiátrica. Os diagnósticos mais importantes são a depressão, o transtorno bipolar, a esquizofrenia, o alcoolismo e os transtornos de personalidade (sobretudo o borderline).

Muitos suicidas nunca tiveram um diagnóstico psiquiátrico em vida. Os transtornos mentais mais associados ao suicídio têm tratamento que pode levar ao controle dos sintomas. O suicídio pode ser evitado mediante diagnóstico, tratamento e medidas de proteção adequadas.  A Associação de Médicos e Cirurgiões Gerais dos Estados Unidos citou o estigma e o desconhecimento público sobre os transtornos mentais como barreiras para o diagnóstico e tratamento das pessoas com risco de suicídio.

Reconhecendo o risco: Para que as medidas de proteção contra o suicídio sejam tomadas, o risco de suicídio deve ser reconhecido. Essa tarefa cabe a todos nós. Como vimos, grande parte das pessoas não teve acesso a um profissional de saúde mental para avaliar esse risco.

Se identificar o risco de suicídio, o que eu faço?

  1. OUÇA A PESSOA. Ao interagir com uma pessoa em sofrimento, sobretudo em risco de suicídio, mostre respeito e que entende seus sentimentos. Focalize nesses sentimentos e não em “conselhos animadores”. Não interrompa frequentemente e evite julgamentos. Demostre solidariedade e não seja superficial. Dizer que “as coisas vão ficar bem” ou outras frases feitas não ajudam.
  2. CONVERSAR SOBRE O SOFRIMENTO. Se perceber grande sofrimento, procure conversar e trazer pessoas próximas. Escolha um lugar adequado, reserve um tempo e estabeleça um diálogo de confiança. Isso também vai ajudar a fortalecer os vínculos, que protegem contra suicídio.
  3. CONVERSE SOBRE SUICÍDIO. Quando uma pessoa diz que “a vida não vale à pena” ou afirmações semelhantes, não subestime o risco. Havendo abertura, questione sobre intenções suicidas. Pode-se chegar ao tema gradativamente e com calma. Não existe momento certo para perguntar sobre isso, mas deve ser num momento em que a pessoa está mais à vontade, falando de seus sentimentos. Perguntar sobre suicídio previne suicídio. Há uma falsa crença que conversar sobre suicídio pode induzir a ideia na pessoa em sofrimento.
  4. RAZÕES PARA VIVER. Sempre há razões que alimentam a esperança e redobram o ânimo do doente. Um paciente em depressão, por exemplo, tem a visão distorcida para enfatizar e interpretar negativamente os fatos de sua vida. Devemos recordar e relacionar as razões que ele tem para viver. Faça uma lista. A família e amigos são importantíssimos, sempre são lembrados nessa hora.
  5. PROTEJA A PESSOA. Se a pessoa está enfastiada de viver, acha a vida sem sentido e apenas isso, ele pode ter um risco baixo. Esteja atento. Contudo se o paciente tem planos claros de suicídio, preparou os meios para realizar, parece estar se despedindo, estamos diante de uma situação de emergência. Nunca deixe o paciente sozinho. Afaste armas, veneno, facas ou cordas. Estimule a pessoa a buscar ajuda imediatamente. Caso ele se recuse, avise a família e os profissionais de saúde mental. Resista à tentação de fazer “acordo” com o paciente e deixá-lo sozinho para que depois ele busque ajuda. Depois pode ser tarde!

Sobre o autor: Dr Fernando FernandesMédico psiquiatra e Pesquisador Programa de Transtornos do Humor – Instituto de Psiquiatria/GRUDA – HC-FMUSP

Fonte: http://canalhigea.wordpress.com/2013/10/27/suicidio-uma-chaga-silenciosa/

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2018-02-02T17:16:13+00:00 13 de janeiro de 2014|Categorias: Blog, Depressão, suicídio|Tags: , , |0 Comentários

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