MULHER – Período perinatal (gestação e Pós-parto), depressão e transtorno bipolar

Ao contrário do que se pensa o período perinatal é uma fase da vida da mulher na qual ela se encontra mais vulnerável aos transtornos afetivos. Em parte, devido às alterações  hormonais e sobretudo, às mudanças de vida nesta fase. A depressão costuma não ser diagnosticada nesta fase, pois seus sintomas podem se confundir com sintomas apresentados na gravidez como o sono, cansaço, alteração do apetite, desejo sexual e labilidade emocional. Entre 10% a 25% das mulheres apresentam depressão durante a gestação, sendo que as taxas mais altas são encontradas em países menos desenvolvidos.  Ocorre normalmente no primeiro e terceiro trimestre. Os fatores associados são, em primeiro lugar, ter apresentado um quadro depressivo no passado, seguido por história familiar de depressão,  gestações anteriores com problemas (aborto, má-formação) e fatores sócio – econômicos, como falta de apoio familiar e conjugal, baixa renda  e ser muito jovem.

Muitas mulheres se sentem culpadas por não estarem felizes durante a gestação e por isso, não costumam demonstrar seus sentimentos, nem relatar ao seu médico durante o seguimento pré-natal. Duvidas quanto `a segurança do uso de medicação são frequentes também. Não há medicação 100% segura e eficaz, de um modo geral e na gestação, também podemos dizer o mesmo, mas no geral, mostram-se seguros. Os estudos observacionais apontam que o não tratamento da depressão pode trazer prejuízos como :  o vínculo mãe-bebê, depressão puerperal e cuidados com o bebê, maior taxa de partos prematuros, com crianças de baixo peso, aumento do risco de uso de álcool e drogas pela mãe, suicídio materno, entre outros que podem comprometer o desenvolvimento da criança, expondo a um maior risco de apresentar problemas psiquiátricos no futuro.

No período pós-parto, ocorrem significativas mudanças na rotina da mulher e sua família, desde a administração de todos os relacionamentos, cuidados da casa e uma, em especial, pode influenciar as portadoras de transtornos afetivos  que muitas vezes, se iniciam nesta fase, alteração do sono. Cerca de 85% das mulheres experimentam alguma alteração de humor, o chamado “blues”, ou melancolia do puerpério. São sintomas de alteração de humor leves e transitórios, duram até 15 dias. Cerca de e 10% a 15% das puérperas vão apresentar um quadro depressivo após este período. Sendo que esse risco está aumentado nas mulheres que apresentaram depressão ou ansiedade intensa na gestação, durante a vida, gestação com complicações, aborto  e problemas obstétricos no passado. Esse ainda é um período de maior risco para as mulheres com transtorno bipolar, pois uma boa parte das mulheres têm seu primeiro episódio de alteração do humor nessa fase. Um terceiro tipo de alteração psiquiátrica dessa fase é a psicose puerperal. Ela ocorre em apenas 0,1% a 0,2% das mulheres. As mulheres bipolares apresentam risco 100 vezes maior que a população em geral de apresentarem esse quadro.  Caracteriza-se por ser um quadro extremamente grave, de início rápido, que apresenta inquietação, irritabilidade e alteração do sono, com sintomas delirantes e alucinações, grande labilidade emocional.  É uma emergência médica e necessita de intervenção psiquiátrica imediata.

De um modo geral, durante todo este período, encontramos dificuldades de lidar com a adesão ao tratamento. A maioria das mulheres interrompe o tratamento quando descobrem que estão grávidas. O que aumenta muito o risco de recaída, especialmente nas mulheres bipolares. A pressão para amamentar  também é um outro fator que contribui muito para não adesão ao tratamento.   Não podemos afirmar que existem medicamentos seguros, que não tragam má-formação e que não passem para o leite materno. Mas no geral, com alguns cuidados, eles são compatíveis com a gravidez e a amamentação.  O principal é que a mãe esteja saudável para estabelecer um bom vínculo com seu bebê, esse é o objetivo do tratamento.  E muitas vezes, isso só é possível com a medicação e abdicando da amamentação.  Não é uma decisão fácil, por essa razão, sempre que houver o desejo de engravidar , uma mulher com transtorno afetivo deve sempre tentar planejar  e conversar muito com seu parceiro, com o obstetra e o psiquiatra antes de tomar uma decisão.

Este artigo é uma contribuição do Psiquiatra Dr. Rodrigo Dias
Programa de Pesquisa em Transtorno Bipolar – IPQ-FMUSP
– Núcleo de Estudo em Telemedicina -IPQ-FMUSP
– Membro do Conselho Científico da ABRATA

 

 

« Voltar

DESTAQUES

2018-02-02T17:41:44+00:00 11 de maio de 2012|Categorias: Blog, Sem categoria|2 Comentários

2 Comentários

  1. nocleg 7 de abril de 2014 às 04:18 - Responder

    Can you tell us more about this? I’d care to find out some additional information.

    • Equipe Abrata 7 de abril de 2014 às 19:04 - Responder

      Dear Nocleg

      Could you tell us more specifically the subject you need additional information about?

      Equipe Abrata

Deixe o seu comentário