Transtorno Mental na Mídia

Apesar dos especialistas afirmarem que a violência entre pessoas com transtornos mentais é exceção, e não a regra, nos últimos dias a divulgação pelos noticiários do caso de um rapaz portador de esquizofrenia, e em surto psicótico, que reagiu com violência à tentativa de levá-lo para internação psiquiátrica trouxe à tona a necessidade de refletir sobre o assunto e buscar esclarecimentos.

Apresentamos a seguir o texto do Conselho Científico da ABRATA e em seguida trechos da matéria veiculada no Jornal do Estado de São Paulo.

Como o médico faz o diagnóstico?  Como se trata?

Em condições ideais, o diagnóstico psiquiátrico é feito mediante uma ou mais entrevistas com o paciente e sua família, com a intenção de obter um relato detalhado dos sintomas e uma descrição completa da história de vida que forneçam um quadro claro sobre o estado atual do indivíduo e sobre as condições que antecederam tal situação. Procuram-se, também, informações sobre outras doenças clínicas e os antecedentes de transtornos mentais na família, que visam dar indícios sobre eventuais predisposições genéticas. Durante as entrevistas, também é realizado o exame psíquico do paciente, no qual são observados seu estado geral, a maneira como se comporta na entrevista, seu grau de orientação no tempo e espaço, seu estado de humor, o curso e o conteúdo do pensamento, a maneira como avalia e significa os fatos que lhe acontecem, a motivação subjacente às suas atitudes, se apresenta ou não fenômenos alucinatórios ou ideias delirantes, indícios sobre seu nível de inteligência, se tem discernimento sobre seu estado psíquico e se está mantida ou prejudicada a capacidade de gerir sua própria vida. São também solicitados exames complementares para auxiliar no diagnóstico diferencial com outras patologias, como exames de sangue, urina, de neuro-imagem e do metabolismo cerebral, como a tomografia computadorizada, a ressonância magnética, entre outros.

Se o paciente estiver num quadro de agitação psicomotora ou num surto psicótico que coloque em risco a sua vida e/ou a vida de terceiros, pode não ser possível realizar a consulta. Nesses casos, o médico pode indicar uma internação psiquiátrica, fazendo um diagnóstico provisório a partir do relato de familiares. Uma vez internado, o paciente pode ser medicado até ter condições de fazer a avaliação conforme a descrição acima, e o médico terá, então, condições de prescrever o tratamento mais indicado para o quadro em questão. O tempo de internação será apenas o suficiente para que o risco de vida seja controlado e que o paciente tenha condições de compreender seu estado e de continuar o tratamento em regime ambulatorial. Nesta fase, é frequente que isso ocorra com o auxílio da família e pode evoluir até um grau de melhora em que o paciente recupera sua autonomia e tenha condições de cuidar de si.

Doente psiquiátrico não pode ficar à mercê de sintomas

Autor: Dr Daniel Martins de Barros – Psiquiatra do HC – USP

Fonte: Jornal Estado de São Paulo – 18 de outubro de 2012

A interdição é determinada judicialmente, quando por causa de transtorno mental, a pessoa não é capaz de gerir sua vida ou seus bens. Se um juiz se convence disso, geralmente amparado por laudo médico, determina que um curador exerça  atos da vida civil em nome do interditado. Em relação a internação psiquiátrica, há três formas previstas em lei: voluntária, quando o paciente concorda, involuntária, quando se opõe, e compulsória, determinada pela justiça.

Embora a maioria dos pacientes psiquiátricos nunca seja violento, não é raro que tanto a internação quanto a interdição judicial causem contrariedade, já que em geral são necessárias justamente porque o individuo não tem discernimento sobre seu estado. A negociação se torna mais complexa, pois o surto pode dificultar o diálogo.

Independente do caso, a forma mais humana de lidar com pacientes psiquiátricos é garantir-lhes tratamento, mesmo que incialmente de forma involuntária, evitando que fiquem a mercê de seus sintomas

« Voltar

DESTAQUES

2018-02-02T17:45:22+00:00 24 de outubro de 2012|Categorias: Blog, Sem categoria|10 Comentários

10 Comentários

  1. Márcio 24 de outubro de 2012 às 18:58 - Responder

    Eu particularmente achei um absurdo o médico diagnosticar um paciente com relatos de terceiros, como foi feito em São Paulo, gerando uma série de transtornos a família, aos órgãos de segurança, a terceiros, a sociedade em geral, isso, sem que o próprio médico tivesse nenhum tipo de contato, seja, pessoal, por telefone, ou por internet,.. acho que esse médico deveria ser responsabilizado pela ação desastrosa que culminou em vitimas. E que se leve em consideração o estado de saúde mental do rapaz, a negligência médica, o possível interesse financeiro da família ou de outrem. E com certeza o rapaz estava em estado psíquico de proteção devido a doença, se fechou ao mundo com medo de possíveis atos contra sua integridade, percebendo que sua casa seria invadida por estranhos, que o levariam para um lugar ignorado por ele próprio acabou desencadeando uma reação psicológica de defesa do próprio organismo, que já estava em estado de alerta, debilitado e cansado de criar meios de defesa diante de tantas injustiças evidenciadas em nossa sociedade doente.
    OBS: Sou paciente depressivo / bipolar, afastado do serviço, porém com total senso de responsabilidade e consciência dos meus problemas, jamais me permitiria ser levado dessa forma em um caso similar, prefiro a morte! A nossa melhora se dá pela aceitação da família em relação ao nosso estado psíquico, o carinho que nos possa ser dispensado, a seriedade como nos tratam, a observância dos fatos expostos pelo nosso senso altamente crítico, porem, muito verdadeiro, honesto, sensato e reflexivo! O que posso dizer é que em certos casos, esses pacientes possuem uma inteligência que diverge tanto das formas de convívio, de ensino que nos são apresentadas através de falsos valores morais, que não nos deixaremos, jamais ser tratados como problemáticos, isso diante de um mundo verdadeiramente problemático e cheio de erros grotescos.

    • Equipe Abrata 27 de outubro de 2012 às 20:26 - Responder

      Estimado Márcio!
      Agradecemos o seu contato com a ABRATA!

      Como ressaltamos o diagnóstico do transtorno do humor e depressão necessitam de várias entrevistas entre o médico, o paciente e a sua família, e ainda diversos procedimentos médicos. E neste contexto a ABRATA se dispõe a informar e educar a sociedade sobre a natureza dos transtornos do humor e por meio dessas informações influir na melhora da qualidade de vida dos portadores de transtornos de humor.

      O impacto do diagnóstico é muito forte tanto para o portador, quanto para os familiares. Nenhum deles sabe lidar bem com a situação do diagnóstico, a crise, o tratamento que não pode ser interrompido e que leva algum tempo para se obter o resultado almejado.

      A maior dificuldade para o tratamento e melhora dos pacientes com Transtorno do Humor é a aceitação da necessidade do tratamento e a continuidade da medicação. É uma jornada longa para familiares e amigos, porém, com o medicamento e doses adequados a pessoa terá chances de manter a estabilidade do humor e ter vida digna no meio social, familiar e profissional, como você mesmo relata .

      Desejamos-lhe muito sucesso em sua jornada e o convidamos para conhecer e participar das atividades da Abrata, caso resida na cidade de SP.
      Abraço fraterno!
      Equipe Abrata

  2. Tainá Ferreira 16 de janeiro de 2013 às 12:25 - Responder

    Oi meu nome é Tainá e tenho 16 anos. Meu pai é bipolar e eu já não aguento mais ver minha família sofrer por esse problema que já dura quatro anos e todo ano que ele tem crises ele começa a odiar só minha mãe. Eu não aguento mais o que eu devo fazer. Me ajuda por favor.

    • Equipe Abrata 24 de janeiro de 2013 às 08:58 - Responder

      Prezada Tainá
      Bom dia!
      A maior dificuldade para o tratamento e melhora das pessoas com Transtorno do Humor é a aceitação da necessidade do tratamento e a continuidade da medicação. É uma jornada longa, também para familiares! Porém, com com os apoios adequados a pessoa com o bipolaridade terá todas as chances de manter a estabilidade e ter um vida digna no meio social, familiar e profissional.

      A família também é atingida como um todo! Não é raro que apareçam dificuldades no relacionamento com os filhos, com a esposa, enfim com todos os membros da família. O ideal é procurar sempre manter o diálogo, principalmente quando o pessoa estiver fora de um episódio, de uma crise. Converse acerca de como ele gostaria de receber ajuda e por outro lado também é uma oportunidade para você e a família também falarem sobre os seus sentimentos.
      As vezes, a família, também no grande desejo de confortar e levar um bem estar ao seu ente tão amado e querido, extrapola na medida dos cuidados.

      Tainá você é muito jovem, sente carinho por sua família, quer apoiar e ajudar, mas também está precisando de ajuda!

      A ABRATA tem como missão prestar esclarecimentos, informações, oferecer apoio e suporte aos familiares e portadores de Transtornos do Humor, depressão e bipolaridade. Estamos, sempre aqui para atendê-la. Conte conosco!

      Semanalmente, oferecemos o atendimento de Grupos de Apoio Mútuo/GAM para a pessoa com bipolaridade, para seus familiares e amigos. Esses GAM acontecem toda terça e quinta-feira, das 18h30 às 20h. Venha participar de um GAM! Para você participar dos Grupos de Apoio Mútuos, primeiro vc precisa se inscrever por telefone para participar do Grupo de Acolhimento. Nesse Grupo, os voluntários explicam sobre as ações da Abrata e o funcionamento do Grupos de Apoio Mútuo. E, neste mesmo dia, você poderá fazer a sua inscrição para o GAM.

      Tainá continue visitando o blog e o site da ABRATA onde encontrará mais informações acerca do Transtorno do Humor. Também sugerimos a leitura do livro “Guia para cuidadores de pessoas com transtorno bipolar”. Este livro traz excelentes dicas e orientações e lhe ajudará muito. Acesse o site wwww.progruda.com e baixe o livro, sem custos.

      Abraço carinhoso!
      Equipe Abrata

  3. treze 4 de novembro de 2014 às 12:00 - Responder

    Sou familiar de uma esquizofrênica. Sinto muito, mas já decidi que não suporto conviver com ela. Alguns portadores de transtorno mental são terrivelmente difíceis e resistem à medicação. Acho que tanto radicalismo na reforma psiquiátrica foi apenas uma desculpa do governo para se livrar dos gastos com o portador. A família não tem condições de lidar com um problema tão complexo. Vejo a minha saúde e a de outros membros da família se deteriorar, na convivência com a portadora. Ela é verbalmente agressiva, muito difícil de suportar. Além disso, algumas dessas pessoas, ainda que não sejam más nem agressivas, são perigosas sim, para si mesmas e para os outros. Teria sido melhor reformar as instituições psiquiátricas para que se tornassem lares assistidos habitáveis, como se fez na Suíça, por exemplo. Ficar com a família depois de adulto não é bom para ninguém, muito menos para o portador. Mesmo os custos para o governo acabam aumentando, em função do comprometimento dos familiares.

    • Equipe Abrata 5 de novembro de 2014 às 23:15 - Responder

      Prezado Treze

      “Por que é que isto nos aconteceu com a minha família?” É uma pergunta feita, a determinada altura, por muitas pessoas cuja família foi afetada pela doença mental. E com toda a razão. A doença mental não é apenas um drama pessoal para os indivíduos que têm a doença. Também pode ser altamente perturbadora para qualquer pessoa chegada ao doente. Pais, filhos, esposas, esposos, companheiros e amigos podem ver-se
      envolvidos num papel para o qual se sentem totalmente mal preparados. Um mundo muito assustador, incompreensível e desconhecido. Não é fácil viver com a doença mental. Esta exerce, frequentemente, uma pressão insuportável nos relacionamentos, que podem começar a desfazer-se e romperem-se.
      Também não podemos esquecer que ainda existe o estigma e isolamento. Existe muita ignorância e preconceito em redor da doença mental, que pode afetar tanto os doentes como quem cuida deles. Isto pode fazer com que lidar com a doença seja particularmente desafiante, levando a que, por vezes, as pessoas fiquem isoladas e sejam marginalizadas.
      E ainda, lamentavelmente a saúde pública brasileira não atende a demanda com a qualidade que todos nós desejamos. Falando em saúde mental, a situação torna-se mais complicada e trazendo mais dificuldades para o tratamento e a busca de qualidade de vida para todos.
      Também é importante realçar que, pelo fato de ter um membro da família com doença mental, isso não significa que tenha de abdicar do
      prazer da vida familiar. Há uma série de coisas que pode fazer para ajudar o seu familiar a enfrentar a doença sem abdicar da sua própria vida. Somos solidário aos seus sentimentos. Tomar a decisão que vc relata, também deve ter lhe trazido muita dúvida, angustia, sofrimentos e indagações, além dos sentimentos que naturalmente surgem nos familiares diante de uma doença crônica de um ente querido. Escolhas de vida são naturalmente complexas.
      Aproveitamos a oportunidade para informar a vc que tem a ABRE – A ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE FAMILIARES, AMIGOS E PESSOAS COM ESQUIZOFRENIA Segue o link: http://www.abrebrasil.org.br/web/

      Grande Abraço
      Equipe ABRATA

  4. Maria 30 de outubro de 2016 às 21:44 - Responder

    Fui diagnosticada com transtorno bipolar há 10 anos, tive várias internações, inclusive fui interdita pela justiça como parcialmente incapaz de gerir bens e pessoas, e meu pai era meu curador. Porém, depois de 1 ano e meio interdita, meu quadro psicológico melhorou e estabilizou-se. Voltei a estudar e atualmente sou formada em Terapia Ocupacional por uma Universidade Federal. No momento estou estudando para prestar concurso público. Sinto uma tristeza enorme de ter sido interdita, mas tento levar a vida e ter objetivos de melhora. Pois hoje tenho a exata noção do que é uma interdição, e de que fui interdita, e dói muito em mim ter sido considerada incapaz.

    • Equipe Abrata 6 de fevereiro de 2017 às 18:47 - Responder

      Prezada Maria.

      Os seus parentes utilizaram-se de um recurso jurídico diante do fato de você estar doente.
      O melhor é olhar a vida daqui para frente, afinal você venceu todos os desafios e está diante de uma linda carreira. Além do mais,
      está estabilizada, podendo levar um vida com qualidade.

      Nossos parabéns pela superação!

      Um grande abraço.
      Equipe ABRATA.

      • Maria 6 de fevereiro de 2017 às 18:54 - Responder

        Obrigada!
        Que outras pessoas com transtorno bipolar possam acreditar em si mesmas e em seu próprio potencial. As crises também nos ensinam, apesar de serem sofridas.

        • Equipe Abrata 7 de fevereiro de 2017 às 08:39 - Responder

          Olá Maria.
          Agradecemos o retorno.
          Abs.
          Equipe ABRATA.

Deixe o seu comentário